Bom, o texto que vou postar hoje, foi um dos primeiros textos que fiz sobre moda, foi ele que fez com que minha querida professora Eleni Kronka me chamasse para colaborar com o Blog Moda Brasil + Design. Tudo bem que os desfiles de Ronaldo Fraga são sempre inspiradores, por isso que ficou legal né?!!
![](https://emeodea.wordpress.com/wp-content/uploads/2009/09/semtc3adtulo-1.jpg?w=300)
“Ronaldo Fraga é um estilista que enxerga o mundo como um todo, inteiramente interligado em todos os sentidos. Não existiria Ronaldo sem ligação com emoções, passado, humor, lembranças, pessoas sem cenários e histórias. Ele reúne tudo isso em torno de uma máquina de costura para juntar uma vivência à outra, e a partir de então tramar cores, texturas e formas em busca de um lugar incomum.
Sua criatividade transforma roupas em fé, protestos, festas, celebrações, coreografias e ritmos. Segundo Carol Garcia, seus desfiles anseiam liberdade, graça e poesia, ou então denunciam injustiças e preconceitos, desde que fascine ou perturbe seu universo e mexa de algum modo com os sentimentos mais profundos do ser humano. Desfiles estes, que sempre levam o espectador para algum canto de seus pensamentos, muitas vezes até ao desconhecido. Ronaldo emociona, conversa com o público que assiste seus desfiles.
No verão 2009 não poderia ser diferente, Ronaldo Fraga (mais uma vez…) impressiona e emociona. Como sempre, o estilista transformou sua inspiração em uma moda cheia de significados. Com uma pitada de crítica, uma boa dose de brasileiridade, muita inspiração e criatividade, e muita emoção, Ronaldo nos leva a uma viagem ao rio São Francisco e suas margens.
O desfile foi uma crítica ao desequilíbrio ecológico no rio São Francisco, que está levando à salinização das águas outrora doces do ‘Velho Chico’. Ronaldo contou em suas tramas a história do rio, desde quando era limpo e servia como fonte de alimentação e renda para as comunidades ribeirinhas, passando pela invasão do comércio, até no que se transformou atualmente, um rio sujo.
Para reforçar o assunto, na passarela foram colocadas muitas bacias cheias de sal grosso, e cenário de cordas. Na trilha, Tetê Espíndola e o grupo de percussão corporal Barbatuque.
Nas roupas, referências à paisagem do rio, aos peixes e à vida ribeirinha. Os primeiros vestidos são amplos e retratam paisagens vivas, que surgem em ricos bordados de escamas e nadadeiras, remetendo a 1ª fase do rio. No meio do desfile aparecem estampas e listras simbolizando a fase de degradação do rio. No fim, para significar o rio poluído e sem vida, o estilista traz à passarela o jeans escuro, os vestidos ‘rasgados’ em cores de terra, e uma desconstrução nas formas, os amplos vestidos tornaram-se shorts, bermudas e casacos.
Como acessórios crucifixos como colares e terços como anéis representam a religiosidade dos povos que vivem nas margens do São Francisco. As viseiras de canudinhos de plástico, segundo Ronaldo Fraga é para ‘beber’ o rio.
Foi emocionante. Mais uma vez. A dramaticidade temática do estilista tem rebeldia e tragédia diluída na aparência ingênua, permitindo a ele expor sua moda autoral de fazer sentir.”
Foto: Site Ronaldo Fraga (vale a pena conferir!!)